quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

O Amotinar dos Verdadeiros Símios




                                       O AMOTINAR DOS VERDADEIROS SÍMIOS


                                                                                                      Rogério Rodrigues            

          As grandes altitudes têm efeitos inesperados no homem. Os efeitos biológicos comuns todos já conhecem, e até mesmo as alterações na dinâmica dos corpos sujeitos ao ar rarefeito das alturas. Mas ontem, quero crer que foi um efeito da altitude de mais de 3000 metros, uma convulsão estranha e coletiva, um surto tomou conta de uma torcida de futebol.Em determinados momentos de um jogo entre dois times latino-americanos - povos que já penaram ao longo da história, açoitados pelos preconceitos de toda ordem - a torcida peruana no Estádio Huancayo emitia sons imitando macacos. A princípio, lembrei-me do filme baseado na obra de Pierre Boulle, O Planeta dos Macacos, uma ficção que mostra uma inversão de papéis na escala evolutiva: Um grupo de prisioneiros humanos sob o jugo de uma civilização de macacos, que os considerava primitivos, pela destruição que, no passado, causaram ao planeta. Afora as nuances conceituais sobre a burrice do homem, as cenas mostravam macacos preconceituosos em atitudes debochadas e zombeteiras em relação aos prisioneiros humanos, como se fossem mais evoluídos do que eles. Voltando aos Andes,a cena completa era a seguinte: toda vez que o volante Tinga tomava posse da bola, a torcida da casa começava a imitar ruídos de macacos, numa lamentável manifestação de preconceito racial, como se eles não pertencessem a uma minoria cultural segregada cruelmente nos países mais desenvolvidos: os descendentes de indígenas pré-colombianos. Fazendo um recorte e colagem das duas situações, o filme e o estádio, ver-se-ia um coliseu, onde a plateia de macacos, convicta de seu alto grau de evolução, insulta os personagens em jogo na arena e estes, realmente mais evoluídos,  apenas lamentam a inversão de papéis. 

        Entretanto, lamentar é muito pouco diante de qualquer discriminação; a gravidade desse tipo de posicionamento passa por cima de toda a compreensão que a humanidade já alcançou depois de muita barbárie. Trata-se de algo muito preocupante tanto no foco humanista, quanto para a segurança da humanidade. Ninguém pode fechar os olhos para essas questões, deve-se punir, inafiançavelmente, qualquer pessoa ou grupo que nesses moldes se manifeste. Todas as etnias têm o mesmo gérmen, isto é que dá identidade à raça humana.

       Obviamente, aquela não foi uma manifestação representativa do povo peruano, talvez nem seja de uma facção organizada. Dá um frio na espinha pensar nisto. É mais cômodo justificar o fato com uma bobagem qualquer: Será a altitude ou a proximidade com a Cordilheira dos Andes?


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